Segundo o relatório do Pisa, a ansiedade diante das provas não parece estar ligada a um excesso de avaliações, já que os porcentuais de alunos ansiosos foram parecidos em países que fazem avaliações padronizadas com frequência e aqueles que as realizam menos. “Não é a frequência dos exames, mas a percepção dos alunos sobre essas provas serem mais ou menos ameaçadoras”, diz o relatório. A pesquisa sugere que os professores podem reduzir o estresse ao ensinar métodos eficientes de estudo, revisar o conteúdo cobrado em provas e fazer simulados. “A forma como os professores se comunicam com eles sobre as tarefas e as provas é muito importante. Sob pressão para melhorar o desempenho dos alunos, os professores tendem a enfatizar que eles precisam se sair bem nas provas para conseguir um bom emprego ou vaga na universidade, mas essa abordagem pelo medo pode fazer com que se sintam ameaçados e muito mais ansiosos”, argumenta o estudo.
Para Batista, nas escolas brasileiras há ainda uma forte crença na reprovação do aluno como um recurso pedagógico para que ele aprenda a se esforçar mais. “A reprovação seria unicamente resultante de sua irresponsabilidade e falta de esforço, nunca um problema no modo de ensinar e na ausência de intervenções precoces para corrigir distintos ritmos de aprendizagem.”
Interferências externas
De acordo com o estudo, é preciso ficar atento ao excesso de interferência dos pais e amigos na vida escolar do aluno. Entre os jovens analisados, aqueles que tinham uma motivação intrínseca, ou seja, que se moviam por um interesse próprio de alcançar o sucesso, se sentiam menos ansiosos que os que tinham uma motivação externa, produzida pela pressão dos outros. Nas palavras da OCDE, a motivação proveniente por pessoas de fora pode levar a um “perfeccionismo incapacitante”.
Fontes: The Economist e O Estado de S.Paulo
Oito em cada dez estudantes brasileiros dizem sentir muita ansiedade para uma prova, mesmo quando se prepararam para ela. Os dados fazem parte de um questionário com foco no bem-estar de estudantes de 15 anos, aplicado pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). A pesquisa foi realizada com mais de meio milhão de estudantes de 72 países e divulgada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O Brasil é o segundo país com o maior porcentual de estudantes que dizem ficar ansiosos durante as avaliações (80,8%), atrás apenas da Costa Rica (com 81,2%). A taxa brasileira é muito superior a média dos países da OCDE, que foi de 55,5%. Para 56% dos alunos brasileiros, estudar também gera muita tensão – na média dos países da OCDE, 36,6% dos estudantes se sentem tensos quando estudam.
De acordo com o relatório, a ansiedade com as lições de casa e provas está relacionada a uma pior performance em ciência, matemática e leitura. Em geral, 63% dos estudantes com os menores rendimentos em ciências e 46% dos que têm maior rendimento dizem sentir ansiedade para as provas. Para especialistas, a cultura avaliativa das escolas brasileiras contribui para que os estudantes se sintam pressionados e, como consequência, ansiosos durante as provas e momentos de estudo. “A cultura das escolas brasileiras se volta predominantemente para duas finalidades: a classificação dos alunos em relação ao restante da turma e sua aprovação ou reprovação. Aprende-se e ensina-se para fazer provas e para passar de ano”, afirma Antônio Gomes Batista, coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Para Simone André, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna, a valorização da avaliação e sua função “punitiva” para o aluno que não sabe o conteúdo cobrado podem levar à ansiedade. “Os currículos brasileiros e nossas escolas não valorizam o erro. Errar é imprescindível como forma de aprendizado, de desenvolvimento de competências. Precisamos ajudar professores e estudantes a entender a importância do erro”.