As paredes estão caindo nas escolas da Finlândia – não só as físicas, mas também aquelas que separam disciplinas e faixas etárias. Segundo o site de arquitetura CityLab, o país está passando por um ambicioso redesenho nacional de suas 4.800 escolas. Além da reestruturação das existentes, 57 novas escolas começaram a ser construídas em 2015 e 44, em 2016.
As novas escolas são projetadas tendo a acústica em mente, para não serem muito barulhentas – crítica que espaços de ensino flexíveis sofreram no passado. As mesas e cadeiras tradicionais desapareceram e deram lugar a cadeiras macias com grandes almofadas, cadeiras de balanço, sofás e paredes móveis por trás das quais você pode refugiar-se para ter discussões privadas. Nesses espaços, a divisão por séries é substituída por grupos de idades misturadas e todas as crianças podem se reunir para compartilhar aprendizados.
Aprendizagem baseada em fenômenos
Em entrevista à Semana da Educação, a ministra da Educação da Finlândia, Sanni Grahn-Laasonen, descreveu algumas das mudanças que estão sendo introduzidas nesses novos espaços, como o fato de disciplinas que antes eram ensinadas separadamente agora serem incluídas em uma aprendizagem “multidisciplinar”.
O currículo requer pelo menos um período prolongado de aprendizagem baseada em fenômenos (phenomenon-based learning ou PBL, em inglês). Durante esse período, os alunos estudam uma matéria tradicional de forma holística. Eles devem estar envolvidos no planejamento desse estudo e serem capazes de avaliar o que aprenderam com isso. “As escolas podem escolher um tema, como a mudança climática, e olhar para isso a partir de disciplinas muito diferentes, como matemática e geografia. Isso dá às crianças habilidades para pensarem sobre temas a partir de diferentes perspectivas”, afirma Sanni Grahn-Laasonen.
Os defensores da PBL dizem que isso ajuda desenvolver habilidades que precisam para os dias atuais, como o pensamento crítico. Kirsti Lonka, professora de psicologia educacional da Universidade de Helsínquia, disse à BBC: “Quando se trata de vida real, nosso cérebro não é dividido em disciplinas. É preciso pensar de forma holística e perceber que não foram dadas aos nossos filhos as ferramentas para lidar com os problemas no mundo, como crises globais, migração, economia, e era pós-verdade”.
O novo estilo de educação da Finlândia foi amplamente considerado um sucesso. Embora o país tenha escorregado no ranking internacional de educação PISA nos últimos anos, ele ainda está muito à frente da maioria de seus pares europeus em matemática, ciência e leitura.
As experiências com espaços de aprendizagem e estilos de ensino mais flexíveis não são novas. O professor acadêmico do Reino Unido Stephen Heppell, que fez campanha e assessorou os governos em TI, educação e design escolar por mais de 20 anos, argumenta que, para a educação estar apta ao século 21, é preciso uma abordagem diferente do ensino do passado.
Heppell esteve envolvido no desenvolvimento de espaços flexíveis de aprendizagem no Wesley College, em Perth, Austrália, e escreveu um guia sobre como a aprendizagem e o ensino deveriam ser abordados dentro deles. Ele disse que algumas tentativas passadas falharam simplesmente porque “os funcionários queriam saber como poderiam continuar exatamente como antes, agora que as mesas dos professores e as paredes tinham ido embora. Eles tentaram usar móveis, plantas, telas, qualquer coisa para recriar as ‘caixas fechadas’ do século XX”.
Para Heppell, uma das prioridades é dar voz aos alunos e ouvir o que eles têm a dizer sobre os espaços que usam e sobre o que aprendem. “Os alunos têm boas ideias. Eles veem coisas que nós não vemos e esse envolvimento desencadeia sua própria metacognição. Enquanto eles pensam sobre o aprendizado, eles estão aprendendo”, diz.
Outros fatores também precisam ser levados em consideração ao analisar as realizações da Finlândia. A BBC resumiu as diferenças entre o sistema da Finlândia e o de outros países. Veja algumas delas:
- O ensino é uma profissão altamente respeitada e bem remunerada.
- Não há inspeções escolares ou avaliações de professores.
- Os dias escolares são curtos e as férias de verão são de 10 semanas.
- O tamanho médio da turma é de 19 alunos.
- O sucesso foi atribuído graças a um elevado respeito pelo ensino e pela leitura.
Fonte: The World Economic Forum