Outro dia, a escola pediu a meu filho de seis anos que escrevesse seis enigmas com as palavras que aprendeu a soletrar na semana. Um exercício extra às tarefas de leitura, matemática e ciências.
Há alguns meses, fico obedientemente sentada ao lado dele enquanto realiza esse tipo de tarefa. Com a leitura nunca tivemos problemas – nós dois lemos por pelo menos uma hora por dia por puro prazer. Mas o restante das lições acabou se esticando por várias horas por dia. Criar um enigma? Isso nem sequer é fácil para um adulto. Agora tente criar seis. Em uma noite!
Nós amamos a professora do nosso filho. E eu estava disposta a aceitar que esse é o sistema escolar, mesmo que cada vez mais pesquisas surjam para questionar a eficácia da lição de casa no Ensino Fundamental. Mas me recusei a continuar com isso quando descobri que uma das lições era acessar um site e digitar “drogas ilegais” para completar “um questionário fácil”.
Isso precisa parar.
Pesquisadores concordam que a lição de casa é inútil para jovens estudantes. “A pesquisa é muito clara. Não há benefício no nível da escola primária”, afirma Etta Kralovec, professora de educação da Universidade do Arizona. “A qualidade da lição de casa dada é tão fraca que simplesmente fazer com que as crianças leiam já é uma alternativa mais poderosa”, concorda Richard Allington, professor da Universidade do Tennessee.
Pesquisadores da Duke University, liderados pelo professor de psicologia Harris Cooper, examinaram cerca de 60 estudos anteriores sobre lição de casa e concluíram que ela teve alguns efeitos positivos no desempenho dos alunos. Mas a correlação positiva foi muito mais forte entre estudantes de 7 a 12 anos. “Mesmo para os alunos do Ensino Médio, sobrecarregá-los com a lição de casa não está associada a notas mais altas. Elas simplesmente entram em ‘burn out’”, analisou Cooper.
E esse é o meu maior medo. Meu filho é brilhante, extrovertido e ativo. Ele joga tênis quatro vezes por semana e, até recentemente, estava fazendo aulas de natação aos sábados e domingos – todas essas atividades foram pedidas por ele e ele adora. Meu filho é insaciável e curioso: seu passatempo preferido é assistir a documentários na sexta-feira à noite.
A vida escolar é outra história. Já na pré-escola, ele enfrentou problemas de ansiedade ao fazer provas. E agora, pela primeira vez, ele está me dizendo que na escola se sente como em uma prisão. Em casa, seu pai e eu costumávamos ler para ele sobre ciências e história. Agora, todo o nosso tempo livre é gasto torturando nosso filho sobre sua lição de casa. Em vez de sentar-se com ele para ver seu novo livro sobre as pirâmides de Gizé, estou desempenhando o papel de patrulhar se está ou não fazendo tarefa.
Estamos inconscientemente envenenando o amor de nossos filhos pela aprendizagem?
Heather Shumaker, autora de “It’s OK to Go Up the Slide”, acredita que estamos. “Uma criança que acaba de ingressar na vida escolar merece a chance de desenvolver o amor pela aprendizagem. Em vez disso, a lição de casa faz com que muitas se voltem contra a escola e o aprendizado acadêmico”, escreveu.
Há poucas evidências de que a lição de casa melhora a aprendizagem dos alunos na escola primária. E alguns indícios de que pode prejudicá-los. Então, por que não simplesmente a cortamos? Um condado na Flórida já o fez. O superintendente do condado de Marion, Heidi Maier, eliminou a lição de casa nesse ano, citando a pesquisa de Allington.
É hora de as escolas aceitarem as conclusões de diversas pesquisas e admitirem que a lição de casa na escola primária não só é inútil, mas também pode ser prejudicial.
Vamos acabar com isso.
Por Ana Menéndez, jornalista e autora de quatro livros, para o Miami Herald