Em 2016, houve um aumento significativo de colégios particulares e da rede estadual de São Paulo que adotaram estratégias para que seus alunos desenvolvam habilidades socioemocionais, como cooperação, empatia e senso crítico. Essa forma de ensino foi adotada em 2015, de forma experimental, em 17 escolas da rede estadual. Neste ano, o número subiu para 145.
“Estamos consolidando a ideia de que não é possível fazer um bom trabalho com jovens e crianças sem focar nessas habilidades”, afirma Ghisleine Trigo, coordenadora de gestão da Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação. “Essas habilidades estão intimamente ligadas às cognitivas. São elas que potencializam o aprendizado. A escola que decide trabalhar o lado socioemocional precisa mudar a sua estrutura e suas aulas”, acrescenta Márcia Almirall, orientadora pedagógica do Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo.
No ano passado, o Colégio Santa Maria capacitou os professores para que as práticas pedagógicas fossem alteradas em sala de aula. Para os alunos do primeiro ao quinto ano, as carteiras foram alteradas para facilitar o trabalho em grupo. Os docentes também são estimulados a darem aula em locais diferentes, como no pátio ou no jardim.
“Se houver planejamento, é possível desenvolver as habilidades socioemocionais em todas as disciplinas. Nas aulas de matemática, todos trabalham em grupos. Nas de português, fazem rodas de conversa para discutir algum assunto. Em tudo dá para trabalhar se soubermos estimular os alunos da maneira correta”, garante Márcia.
Para a professora Elaine Carapiá, da escola estadual Professora Irene Ribeiro, na Vila Carrão, essa mudança de mentalidade faz com que o professor se torne uma peça menos central e se transforme em um mediador para que os alunos tenham espaço para aprender com os colegas. As aulas também falam sobre os sentimentos e como lidar com eles.
“Eles vivenciam situações muito difíceis em casa que podem impactar o aprendizado. Outro dia um estudante disse que os pais estavam brigando e jogaram as alianças no lixo. O menino começou a cantar e aconselhou os pais a se acalmarem. Ele aprendeu na escola que, quando se está nervoso, é importante respirar e disse isso para os pais em um momento de conflito”, relata. Segundo Elaine, é importante estimular as crianças a se expressarem para ganhar confiança. “Não temos mais apenas uma relação entre aluno e professor, mas entre seres humanos”, reflete.
No colégio Pio XII, na zona oeste, os adolescentes do sexto ao nono ano têm aulas em que são estimulados a abordar temas que podem gerar preconceito e assistem a filmes sobre temas delicados, como morte ou drogas. “Percebemos que quando eles entendem o que sentem em diferentes situações se tornam mais tolerantes, prestativos e têm mais empatia com os colegas”, afirma a psicóloga e professora Patricia Prado. Para ela, como as crianças passam a maior parte do tempo no colégio e desenvolvem as primeiras relações sociais no ambiente escolar, é responsabilidade dos colégios não só transmitir conhecimento, como também valores morais e éticos. “Isso sem contar que um aluno que tem problemas em casa ou em se relacionar e não sabe como lidar com isso vai ter queda no rendimento escolar como um todo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.