Em 2014, a equipe da Reach Academy, em Oakland, Califórnia, percebeu o quanto seus alunos precisavam aprender a lidar com suas emoções. Em uma tentativa de oferecer apoio psicológico, eles contataram a professora de mindfulness Laurie Grossman.
Quando Laurie instruiu uma classe a fechar os olhos e a se concentrar em sua respiração, um aluno se recusou e permaneceu de olhos abertos.
Esse tipo de resposta é comum entre estudantes que sofreram traumas, como a morte de um dos pais, divórcio, negligência emocional ou dificuldades financeiras. Pesquisas neurológicas mostram que experiências trágicas podem afetar o desenvolvimento do cérebro e a capacidade da criança de se concentrar e relaxar. Como resultado, os alunos acreditam que é importante manter sempre um olhar atento sobre o ambiente ao redor.
“O trauma que nossos filhos carregam afeta sua capacidade de aprender”, diz o educador Mason Musumeci, ex-professor de alfabetização da Reach Academy. Como as crianças têm testemunhado níveis de conflito altos, geralmente são carregadas de sentimentos de preocupação e medo, emoções que as impulsionam para o modo de luta ou fuga – um estado contínuo de estresse que afeta sua saúde física e mental. Esses problemas impedem que elas se sintam seguras o suficiente para se concentrar na aula.
Se em um primeiro momento os estudantes se esforçavam para fechar os olhos e confiar em Grossman, aos poucos eles reconheceram os benefícios da atividade e ficaram tão à vontade que pediam para liderar a prática eles mesmos. Antes, os professores tinham dificuldade em ajudar os alunos a reconhecer suas emoções, prestar atenção nas aulas e comunicar seus sentimentos verbalmente, em vez de partir para a agressão. Com a introdução do mindfulness, a serenidade pairou na sala de aula e os professores e administradores da escola reconheceram a importância da técnica.
“Quando pratico mindfulness, sinto-me calmo e isso me ajuda a aprender”, afirmou um dos estudantes mais indisciplinados. O aluno ficou tão empolgado com a descoberta que, no “Super Hero Spirit Day”, dia em que os alunos se fantasiam com seu super-herói favorito, ele foi vestido de “Mestre do Mindfulness”.
Os alunos contaram a história à Grossman, que perguntou-lhes como poderiam ajudar mais pessoas. Eles, então, decidiram escrever um livro. Durante três meses, a professora se encontrou com as crianças várias vezes por semana. Eles fizeram um brainstorming para escolher quais informações queriam compartilhar no livro e acabaram decidindo que a obra incluiria três pontos principais: a definição de mindfulness, como a prática os ajudou e como outras crianças podem se beneficiar também. Um artista local deu vida às suas histórias por meio de desenhos.
O livro, “Master of Mindfulness: How to Be Your Own Superhero em Times of Stress” (“Mestre do Mindfulness: como ser seu próprio super-herói em momentos de estresse”, em tradução livre) é um livro escrito por crianças para crianças. A obra ensina como o mindfulness pode ajudar a amenizar conflitos familiares, sentimentos tristes e a rivalidade entre irmãos.
Escrever também serviu como uma forma de terapia para os alunos. Por meio do processo de escrita, eles perceberam o quanto o mindfulness os ajudou a responder ao trauma, em vez de reagir a ele.
Os estudantes continuam a usar a técnica para ajudar outras crianças. Em junho, quatro dos autores foram para a Park Day School, em Oakland, e conversaram com uma turma da quarta série e duas da segunda série. Na Reach Academy, o mindfulness passou a fazer parte do currículo escolar. Inspirador, não?