A “viagem pelo Brasil realizando um projeto de educação itinerante” revela-se, diferentemente do tom que suscita a frase, um trabalho exigente, de noites pouco dormidas e dias repletos de afazeres. O costumeiro momento do dia de ser si mesmo em espaço próprio também torna-se escasso ou inexistente.
A van até que é confortável e as estadias são justas, o que, juntamente com a boa cia, tornam-se aspectos importantes ao contrapeso dentro de minha mente adaptativa a esse novo modelo de cotidiano. Mas, definitivamente, é na realização dos encontros e oficinas que tudo toma forma e sentido.
Em geral é mais expressivamente após as oficinas com adultos, durante as rodas de conversa, ou mesmo durante as atividades práticas (“mão na massa”) com as crianças, que a viagem revela o sabor de glória, anulando qualquer traço de agonia sobre o que fora o processo de aragem e semeadura em terreno pedregoso.
Em São Carlos pude contemplar processos de ressignificação sobre “trabalho em equipe” por jovens, crianças e até ex-conformados adultos.
Hoje mesmo, aqui em Goiânia, foi com sentimentos lacrimejantes que assisti a uma criança defensiva, calejada por ambientes sociais hostis, mais uma que repete entre colegas os tratamentos de rejeição que recebeu alhures, abrindo-se pouco a pouco ao frutífero trabalho em grupo. Despia-se, mesmo que sutilmente, do papel de quem exerce bullying. Reconhecia, mesmo que timidamente, a importância do trabalho da esmerada colega (geralmente alvo do bullying).
Abria-se claramente, naquela atividade, uma brecha para que essa e outras crianças enxergassem de forma distinta às outras e a si mesmas, a desvencilharem-se das amarras de um cotidiano vicioso e possivelmente de reinserirem-se socialmente, mesmo que durante um breve exercício.
Que seja uma pequena semente plantada na mente daquela garotinha. E que venha a reverberar e otimizar sua experiência de vida, assim como as de quem a rodeiem.