Um número crescente de escolas públicas em áreas de baixa renda começou a usar espaços maker móveis, alojados em ônibus escolares remodelados ou em outros veículos, para colocar seus alunos em contato com ciências, tecnologia, engenharia e matemática – quarteto conhecido como STEM, em inglês (Science, Technology, Engineering and Math). A iniciativa acompanha uma tendência já seguida por escolas com escassez de dinheiro, que veem nas salas móveis a chance de oferecer experiências aos alunos que seriam muito onerosas caso fossem realizadas dentro do ambiente escolar.
Esses laboratórios móveis têm como inspiração o movimento “do it yourself” (ou “faça você mesmo”, em livre tradução) e oferecem aos alunos vivências mão na massa em áreas como programação, impressão em 3D e design de videogames. Defensores da iniciativa esperam que a exposição a áreas e carreiras que os alunos não teriam contato de outra maneira, como ciências, programação e engenharia, leve a um aumento do número de estudantes de baixa renda nessas profissões, em que tradicionalmente são pouco representados.
“Nos últimos anos, os educadores começaram a perceber que esse tipo de iniciativa é uma maneira realmente poderosa de engajar os jovens e fazê-los ter mais interesse pela ciência”, diz Edward Price, professor de física da San Marcos, Universidade Estadual da Califórnia. “Estudantes de classes sociais mais baixas geralmente têm noções muito estereotipadas sobre o que a ciência é ou o que um matemático faz. Se essas áreas se tornarem de seu interesse, definitivamente seu desempenho será maior”, afirma William Schmidt, professor de educação e estatística da Michigan State University.
Um “geekbus” para incentivar novos horizontes
Espaços makers móveis podem seguir diferentes estratégias. Alguns focam em atividades depois do horário da escola ou durante as férias, enquanto outros oferecem oportunidades durante o dia escolar. Eles podem ser de propriedade das próprias escolas ou resultado de parcerias realizadas com organizações sem fins lucrativos.
O Geekbus, iniciativa realizada em San Antonio, Texas, por uma organização sem fins lucrativos, visita escolas na cidade ou nos arredores desde 2014, proporcionando sessões mão na massa a pequenos grupos de alunos que duram cerca de duas horas. O objetivo é expor as crianças de comunidades de baixa renda a possíveis caminhos de carreira que talvez não tenham tido conhecimento até então.
83% dos estudantes atendidos pelo ônibus frequentam escolas públicas ou que tenham alta porcentagem de estudantes de famílias de baixa renda. A composição dos participantes varia de acordo com a sessão: às vezes, a escola seleciona estudantes com base em nível ou classe; em outras, recompensam estudantes com notas especialmente altas ou escolhe estudantes que tenham um mau desempenho na tentativa de ajudá-los a descobrir algum talento oculto.
O Geekbus pretende manter um índice de 50-50 entre estudantes do sexo masculino e feminino. A ideia a alterar o cenário atual – segundo pesquisas, menos de um quarto de todos os empregos de STEM nos Estados Unidos são ocupados por mulheres, uma vez que, a partir dos seis anos de idade, meninas já são induzidas à ideia de que “garotos são mais brilhantes”.
O verdadeiro objetivo: uma mudança de mentalidade
O STE(A)M (Science, Techonology, Arts and Math) Truck, de Atlanta, adota uma abordagem ligeiramente diferente. Mais que expor jovens a potenciais carreiras, o caminhão tem como objetivo principal estimular os educadores a pensar em novas formas de ensinar ciência, tecnologia, engenharia, matemática e artes na sala de aula. Os trabalhadores do caminhão incluem educadores experientes, mentores tecnológicos e artistas. “O caminhão foi projetado para transformar o ensino e a aprendizagem”, ressalta Jason Martin, diretor executivo do STE(A)M Truck.
Entre as escolas atendidas pelo caminhão está a KIPP West Atlanta Young Scholars Academy. 90% de seus alunos são provenientes de famílias de baixa renda e o financiamento escolar para educação STEM é escasso. “Para nós, contratar um professor de STEM em tempo integral é um sonho distante”, lamenta Ho-Sang, diretor da escola.
Para ajudar escolas com restrições orçamentais similares a incorporar o STEAM ao currículo, o caminhão trabalha com cerca de cinco professores do ensino fundamental e médio no decorrer de 20 dias. Essas sessões são precedidas de meses de reuniões com diretores e educadores para adaptar o programa às necessidades de cada escola. O objetivo é deixar uma marca que permaneça por muito tempo depois que o caminhão acelerar para o próximo destino. “Não queremos deixar como legado apenas ferramentas e tecnologia, mas, sim, uma mudança de mentalidade”, diz Jason Martin. “Após a experiência no caminhão maker, esperamos que os professores tenham uma mentalidade diferente e vejam além de como as coisas são tradicionalmente feitas.”
Expedição Pará: no Brasil também é possível
O MundoMaker acredita fortemente que é possível transportar a experiência maker móvel para o Brasil. No ano passado, vivenciamos a ideia de perto: entre os dias 13 de junho e 27 de agosto, instituições de ensino de diferentes estados receberam a visita do Truck MundoMaker, um laboratório maker sobre rodas, equipado com materiais e ferramentas diversas que iam de fita crepe e placas de acrílico a impressora 3D, cortadora a laser e wi-fi.
A expedição ofereceu às instituições o contato com a prática da aprendizagem criativa: desenvolver projetos significativos para os jovens, levando em consideração o diálogo entre os pares, a criatividade, o respeito, o pensamento crítico, o planejamento, a resiliência e a possibilidade de errar como parte do processo de aprendizagem.
Nosso principal objetivo era despertar a curiosidade e o interesse das crianças e educadores pelo “fazer manual” por meio de propostas de projetos que uniam equipamentos sofisticados e ferramentas acessíveis, mesclando robótica e programação com marcenaria. Durante 77 dias de expedição, impactamos 2.500 pessoas, crianças e educadores, de 152 escolas públicas ou ONGs.
Uma expedição como essa também serve para a formação prática de educadores. Contamos com o trabalho de 35 educadores expedicionários ao longo da viagem, que estavam sempre dispostos a dar o melhor de si em cada parada, garantindo que a experiência fosse inspiradora para todos os envolvidos (saiba mais sobre a expedição aqui, na página do Facebook ou no nosso canal no YouTube).
E que venham mais iniciativas como essas!
Fonte: The Christian Science Monitor