Por Lynn Collins
Já acreditei que, por meio da lição de casa, meu filho aprenderia mais e, portanto, teria um desempenho acadêmico melhor. E, alcançando um bom desempenho, consequentemente entraria em uma excelente faculdade. Ele seria preparado para uma vida bem sucedida e feliz. Porém, ao longo dos meus 20 anos como professora e mãe, comecei a ver as coisas de um jeito bem diferente. A lição de casa não leva a maiores realizações, na escola ou na vida, simplesmente porque ela não é a resposta.
Mas por quê?
Em primeiro lugar, a lição de casa mata o desejo natural de aprender que nasce com a criança. Nossos filhos passam cerca de sete horas na escola todos os dias, onde se dedicam a diversas lições e trabalhos, e depois ainda lhe damos tarefas para fazer em casa.
Queremos que nossos filhos trabalhem duro e obtenham conquistas, mas nós os sobrecarregamos com tarefas até que eles não gostem mais da escola e o aprendizado se torne algo chato e esmagador. Esse esgotamento físico e mental que a criança sente em relação à escola é a antítese da curiosidade e, claro, não leva ao sucesso. “O trabalho de casa pode ser o maior extintor de curiosidade já inventado”, afirma Alfie Kohn, escritor e um dos palestrantes mais populares na área da educação.
Centenas de estudos de pesquisa (centenas!) são contra a lição de casa. Segundo Denise Pope, professora sênior da Stanford e autora de “Overloaded and Underprepared: Strategies for Stronger Schools and Healthy, Successful Kids” (“Sobrecarregado e despreparado: Estratégias para escolas mais fortes e crianças saudáveis bem-sucedidas”, em livre tradução), diversas pesquisas indicam que não há correlação entre o bom desempenho acadêmico e a lição de casa.
Um estudo da Penn State University, conduzido pelos pesquisadores Gerald LeTendre e David Baker, mostrou que os alunos em países de alto desempenho como Japão, Dinamarca e República Tcheca recebem menos deveres de casa do que estudantes dos Estados Unidos. Estudantes com os índices mais baixos vieram de países como Irã, Grécia e Tailândia, onde grande quantidade de lição de casa é passada.
Outras pesquisas concluíram que a lição de casa geralmente afeta o sono. Isso porque, depois de um longo dia escolar, de outras responsabilidades e do jantar, as crianças muitas vezes demoram mais tempo para terminar a tarefa do que demorariam se a fizessem na escola, já que estão cansadas do dia exaustivo. Assim, eles vão para a cama mais tarde, perdendo o sono precioso e fundamental para o processo de aprendizagem. Pesquisadores da Divisão de Medicina do Sono de Harvard analisaram que, quando estamos privados de sono, nosso foco, atenção e vigilância oscilam, tornando mais difícil a absorção de informação. Sem dormir e descansar adequadamente, os neurônios sobrecarregados não conseguem mais funcionar para coordenar as informações e perdemos nossa capacidade de acessar o conteúdo aprendido previamente.
Para piorar a situação, os familiares muitas vezes discordam e discutem sobre os trabalhos de casa, levando a um grande estresse em casa. Os pais tornam-se os professores (sem credenciais) e espera-se que conheçam os métodos que o professor usou em sala de aula, um encargo injusto para eles. Além disso, as crianças precisam lidar com o fardo da decepção de seus pais quando não entendem um conceito. As noites não devem ser um momento estressante para as famílias, mas, sim, uma chance de estreitar o vínculo.
Mas, então, qual a solução?
É preciso que a criança aprenda de outras maneiras. Aprender com um professor que é credenciado e experiente é maravilhoso e exercícios podem ajudar os alunos a trabalharem para dominar a matéria, mas a escolaridade tradicional não deve ser a única maneira de aprendizado. Uma alternativa válida é adotar uma atividade apoiada por pesquisa, como a leitura. As crianças também podem aprender assistindo a documentários interessantes, fazendo contas matemáticas enquanto prepara uma receita, jogando Scrabble, indo a museus, e assim por diante. Ao aprender de outras maneiras, nossos filhos usarão seu cérebro de maneiras novas, e eles verão que aprender não é apenas algo que acontece dentro de uma sala de aula.
Que tal dar-lhes algum tempo de descanso depois a escola para que possam se recuperar mentalmente do longo dia? Se nossos filhos vão à escola renovados, em vez de estressados, sua curiosidade natural retornará e eles terão mais energia mental para aprender. Ao proteger esse tempo de inatividade para os seus filhos, você também está dando tempo para que pensem por si e descubram quem são, ao invés de robôs que só fazem o que são orientados.
Que tal mandar seu filho realizar alguma tarefa doméstica? De acordo com o Harvard Grant Study, um dos estudos longitudinais mais abrangentes da história, o indicador número um de sucesso profissional na vida é ter feito tarefas domésticas quando se era criança. Ao ajudar a casa, as crianças sentem que estão contribuindo para a família. Isso se traduz em uma atitude de “como posso contribuir com o grupo?”, como adulto, em vez de uma atitude de “o que posso fazer por mim?”. Também é possível mudar a forma como a lição de casa é vista ao reativar o desejo natural de aprender. Como? Orientando que façam leituras noturnas. Com uma política de lição somente para leitura, as crianças realmente teriam tempo para fazer a leitura e sentiriam um prazer verdadeiro, em vez de concluir a tarefa por obrigação.
Vicki Abeles, defensora da educação e criadora de “Race to Nowhere”, um documentário poderoso sobre nosso sistema de educação de alta pressão e o que ele está fazendo com os nossos filhos, criou diretrizes, com sua equipe, sobre o que a lição de casa deve ser. Suas diretrizes incluem: aprendizagem baseada em projetos, projetos liderados por estudantes sobre assuntos que os interessem, experiências que não podem ser realizadas dentro do horário escolar e tarefas que promovem um espírito de aprendizagem, curiosidade e indagação entre estudantes.
Nos Estados Unidos, muitos educadores e escolas inteiras aboliram a lição de casa com grande sucesso. Outros estão hesitantes, muitas vezes porque os pais ainda exigem lição de casa sem entender o problema. Se não fizermos uma mudança agora, nossos filhos pagarão o preço mais tarde. É preciso compartilharmos esses pensamentos com professores e diretores para observamos uma transformação de fato. A liberdade de absorver conhecimento, em vez da tarefa de casa tradicional, trará o desejo natural de aprender dos nossos filhos, criando-os para grandes realizações, tanto na escola quanto na vida.
Lynn Collins atualmente trabalha como consultora de educação
Fonte: Free-range Kids