Voltar a atenção para si mesmo e viver cada momento é cada vez mais difícil em um mundo cheio de estímulos sensoriais e responsabilidades que geram ansiedade. Com isso, a cabeça fica em todos os lugares ao mesmo tempo, menos no aqui e agora. Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, descobriram que permanecemos no piloto automático em, aproximadamente, 47% do tempo – e deixamos a vida passar diante dos nossos olhos sem nem perceber. Pode parecer besteira, mas o simples ato de trazer o cérebro para o presente já é capaz de melhorar sua saúde mental e promover bem-estar. Todo esse conceito se traduz em apenas uma palavra: mindfulness.
A técnica (traduzida como “atenção plena”, em português) tem suas raízes na religião, filosofia e meditação budistas, mas passou a ganhar destaque no Ocidente na metade dos anos 70. Mindfulness diz respeito a saber exatamente o que está acontecendo dentro e fora de si em todo momento, nos reconectando ao nosso corpo e às sensações que ele experiencia e tomando controle da própria mente.
Para o ex-diretor do Oxford Mindfulness Centre (órgão que faz parte da Universidade de Oxford, no Reino Unido) Mark Williams, o ponto-chave é se permitir ver o momento presente com clareza. “Quando fazemos isso, podemos mudar positivamente a maneira que enxergamos nós mesmos e nossas vidas”, diz. E aqui começa a mudança. Trata-se de uma observação sem julgamento. Pensamentos chegam e vão embora como bolhas de sabão, cabendo a você observá-los sem criticá-los e sendo gentil consigo mesmo.
Benefícios do mindfulness
Fincar a mente no presente nos ajuda a aproveitar melhor o mundo ao nosso redor, valorizando experiências que antes você sequer daria bola. A atitude também nos ajuda a nos entendermos melhor. Depois de um tempo observando seus pensamentos, você começará a entender seus padrões. Assim, gradativamente, será possível perceber quando eles estão tomando conta de você e virar o jogo antes de entrar em uma espiral negativa.
Cada vez mais o olhar da ciência se volta para a técnica. Descobriu-se que ela atua nas amídalas cerebelosas, área do cérebro associada ao medo, à raiva e à infelicidade. Com isso, ela reduz drasticamente o estresse, a ansiedade, a irritabilidade e os sentimentos autodestrutivos. Há, ainda, evidências de que ela não apenas previne, mas também pode ser usada no tratamento da depressão – podendo ser tão efetiva quanto remédios antidepressivos, segundo pesquisa publicada no jornal científico Archives of General Psychiatry. A memória melhora, assim como o desempenho acadêmico, a criatividade, as inteligências emocional e social e o foco. Ela também ajuda seus praticantes a jogarem a insônia de escanteio, a fortalecerem o sistema imunológico, a tomarem melhores decisões e até a se alimentarem melhor.
Vivendo o mindfulness
A palavra “meditação” pode deixar muitas pessoas receosas, especialmente aquelas que se julgam sem paciência para praticá-la. Porém, a verdade é que meditar não tem nada a ver com sentar no chão com as pernas cruzadas, tampouco é uma prática religiosa. Trata-se de um treinamento mental. Por isso, incluí-la em sua rotina é mais fácil do que se imagina.
É possível tanto parar alguns minutos para meditar quanto inserir doses de mindfulness no dia-a-dia. Pause e preste atenção à sua respiração, especialmente quando você estiver vivenciando emoções intensas. Perceba de verdade o que você está sentindo em determinado momento, o que está vendo e os sons e aromas que estão sempre ali, mas raramente chegam à consciência. Reconheça que os pensamentos e emoções são efêmeros e não o definem. Volte-se para as sensações físicas, desde a água que cai sobre sua pele no banho até o jeito que seu corpo repousa na cadeira do escritório. Existem muitos outros exercícios práticos:
– Inspire pelo nariz e expire pelo nariz vagarosamente, de modo que cada ciclo dure seis segundos, aproximadamente. Deixe o ar fluir sem esforço e deixe as tarefas pendentes de lado por um minuto. Permita-se ficar parado nesses 60 segundos. Parabéns, você acaba percorrer metade do caminho para meditar! O tempo é curtinho, mas o objetivo é que você o suba para dois ou três minutos aos poucos.
– A rotina atribulada faz com que nos esqueçamos da beleza que nos rodeia. Para se lembrar dela, escolha um elemento da natureza que esteja no ambiente – vale um vaso de plantas ou flores, as nuvens, o céu e até mesmo um inseto. Não faça nada além de se concentrar naquilo e perceba suas formas e cores.
– Nomeie seus pensamentos e sentimentos para realmente saber o que está acontecendo. Isso é ansiedade ou tristeza – ou os dois juntos? É medo de falhar na prova? É felicidade por ver um amigo antigo? Conheça-se melhor.
– Tente algo novo, como sentar-se em outro lugar na mesa de reunião, conhecer pessoas e experimentar um novo restaurante no almoço. Isso o ajudará a sair do piloto automático e a perceber o mundo de um jeito diferente.