Começamos!
Acordei diferente na segunda feira do dia 13 de Junho. Fazia 5º graus na minha casa. A temperatura até que era algo comum para a época. Mas o maior frio vinha de minha barriga. Estava saindo de casa, sabendo que ali só pisaria de novo no dia 28 de Agosto.
Me despedi de minha companheira, das minhas plantas do meu quintal, me despedi das minhas flores – e elas estavam florindo de uma maneira que para mim, parecia proposital. Me despedi da minha rua, de minhas ‘roupas sérias’ de trabalho, meu sapato.
Juntei apenas o selecionado e fui.
Juntei-me portanto a um grupo também muito bem selecionado por sua vez. Não que tenha havido um meticuloso processo de várias etapas para escolha da equipe, tal qual uma empresa convencional. Senti que fui selecionado pelo ímpeto mostrado, pela vontade de participar e pela abertura aos novos conhecimentos que a instituição-ideia MundoMaker poderia me propiciar. Vi interesse de todos os lados. Interesse pelo que eu trazia e pelo que eu tocava ali. Interesse pelo que poderia e certamente iria nos acontecer no que certamente se tornaria um canal firme de trocas.
Então saímos. Pegamos o rumo sentido São Carlos; e principalmente sentindo São Carlos.
Os processos todos são uma mescla entre conhecimentos técnicos e sentimentos e sensações internas, e por isso e para isso nos concentramos para abrir em nós um canal sensível com todo esse processo que ali estávamos prestes a iniciar.
Antes de cada atividade, nós realizamos sessões de meditação – o que a princípio me causou um ligeiro espanto, tendo em vista que somos um grupo cujo o destaque – a primeira vista – se evidencia pelo uso de tecnologias digitais. Eu, ou qualquer pessoa que se aproxime dessa instituição-ideia, acaba recorrendo nessa ingenuidade.
Ali, e em trânsito com o outro, em pouco tempo fui descobrindo que toda a parafernalha lunática que utilizamos são sim ferramentas muito boas, mas são apenas meios. Meios essenciais para um alcance que só se faz real em caráter interno.
Não ensinamos a mexer em equipamentos. E em suma, não ensinamos. Vimos que o ensinar não é nem sequer um bom verbo para ser conjugado sob a ótica da inter-relação psico-social.
Afinal de contas, como posso eu pensar ensinar, se aprender é um processo essencialmente interno e ativo daquele que aprende algo?
Nós, provocadores natos, cada um a seu jeito, forma e bagagem, instigamos as pessoas que porventura tocamos, a buscarem-se em si. Espelhamos questionamentos para que o/a ser em nossa frente busque em si, e nas trocas de seu passado e seu presente, as respostas que busca para qualquer que for a demanda: filosófica e/ou prática.
Me senti bebendo de fontes antigas do ser humano, como Sócrates e processos culturais indígenas, mas agora somos nós. Vestindo roupas de inovação tecnológica, com um pé afundado na terra, mas com os olhos soltos ao horizonte.
Percebo portanto que haverá inevitavelmente um forte processo interno durante essa viagem. Pois, afinal de contas, nos processos pedagógicos que buscamos realizar e aperfeiçoar, não existem notas, respostas certas ou erradas. O que existe são trocas, com o que trago e com o que toco em troca.
Sinto-me livre para que, aprofundando-me nos processos educacionais que promovem comigo e que promovo com “eles” – todo e qualquer um – sinta e reflita acerca de minhas principais questões, anseios, críticas e porque não, acerca de meus sonhos mais românticos de uma realidade distante tanto em quesito de concepção simbólica; e quem dirá em quesitos práticos.
Vou/voo aberto. Aprofundando-me e sentindo-me contemplado em bases teóricas, porém concebendo e sentindo essas bases única e simplesmente através da prática constante e de sua reflexão individual e em coletivo.
Quando comecei a escrever esse relato, pensei que falaria sobre São Carlos. Mas minhas experiências de lá terão de ser sintetizadas em outro relato. Pois nesse primeiro, o processo deveria e continuará devendo, ser primeiro interno.
Enfim, partimos!
Parti de concepções engessadas. Parti de partes constituíntes de mim. Parti, mas me juntei a novas partes, que sendo cada qual a sua forma, nos potencializamos pela honesta multiplicidade de lados e facetas.
Este é o nosso grupo. Um ser múltiplo, complexo, ao passo de ser simples. Tecnológico e inovador, ao passo de buscar raiz, cultura e reciclagem simbólica e prática de sabedorias das mais distintas.
Fico feliz de partir assim. Parte de mim fica, ficou em Sâo Paulo, ficou em cada ser que toco, e em cada lugar que ajo. Mas também sou parte. E seguimos!